Vender Camarão na praia de Eduardo Seiti Comparar o mercado de balões à venda de camarão na praia me pareceu uma grande ideia, veja: Ambulantes vão ao mercado de peixe, no fim de feira, compra o camarão mais barato, volta de ônibus para a sua simples casa, a família ajuda em colocar estes camarões no espeto, às vezes a filha, a sogra e até a filha da vizinha que estava na casa. Frita de noite e de manhã colocado em uma bandeja coberto com um pano de prato, pega outro ônibus sob um calor infernal, vai para a praia vender honestamente estes espetos, nem sempre com os cuidados de higiene necessários em se tratando de comida. Custa apenas 1 real, mas como tem tantos concorrentes vendendo cada vez mais barato, fica até difícil vender. Nem dá para entender por que muitas pessoas não compram mesmo sendo tão barato, quase de graça. Um dono de quiosque traz de carro no intenso calor os camarões que comprou no mercado de peixe, comprou menos desta vez por que no dia anterior choveu e sobrou camarão no quiosque. Fez uma boa negociação podendo pagar a prazo do seu fornecedor habitual. Coloca os camarões frescos no freezer e começa a atender os seus clientes. Primeiro começa a fritar os camarões que sobraram do dia anterior, mas como são fritos na hora, o cliente nem percebe a diferença. Vende a porção a 20 reais e refrigerante a 3 reais. Permite os clientes que use as cadeiras, a mesa e guarda sol para consumirem os seus produtos. Vê que quem não tem como pagar uma porção, vai comprar camarão no espeto dos ambulantes. Mas nem todos aceitam a sua porção, mesmo tendo um preço justo e honesto. Um dono de um restaurante que fica na mesma rua bem em frente do quiosque faz um pedido de camarão de um fornecedor fiscalizado pela vigilância sanitária. Este fornecedor transporta e entrega em caixas refrigeradas para que durem dias frescos e higiênicos. Guarda em um freezer conforme a orientação da fiscalização da prefeitura, e vende um prato com camarão a 90 reais e refrigerante gelado com copo de vidro e gelo com rodela de limão a 5 reais, servido por um garçom que estudou no SENAC, registrado e motivado para bem atender. Tem a sua clientela que não comeria no quiosque e muito menos comeria o espeto do ambulante, pois tem recursos suficientes para tanto. Os três vendem a mesma coisa. Camarão. Entretanto os preços e a qualidade são distintos. Os clientes também. Quem como camarão no espeto não comeria no quiosque, quem come no quiosque prefere não comer o camarão no espeto, e quem come no restaurante, prefere o conforto do ar condicionado e da segurança em comer um camarão sem risco de ter um desarranjo intestinal. É fácil de visualizar os clientes e os profissionais do camarão. Todos estão visíveis e no mesmo local. Mas no trabalho do decorador com balões os clientes e os profissionais estão atrás de um telefone. Um decorador no início de carreira quer vender para todos os clientes. Quando um comprador de camarão no espeto liga pedindo um orçamento, fica assustado com o preço e pergunta se os balões são feitos de ouro. Na ânsia de vender, abaixa o preço, compra balões mais baratos e chama o marido, a filha e a vizinha para montar a decoração. A partir daí, só vai atender cliente que compra camarão no espeto, pois o seu produto e qualidade são para esta classe de clientes. Fica muito difícil sair deste mercado de camarão no espeto. Não tem nada de errado trabalhar neste mercado, apenas seria prudente procurar vantagens em relação ao seu concorrente como : Negociar bem com o fornecedor, com preços menores e mais prazo, ter segurança do fornecimento, trabalhar com cliente em grande quantidade e trabalhos mais constantes. Se tiver devida paciência, um decorador pode aguentar a não venda e esperar por um cliente que quer comer no restaurante. Quando você atinge este mercado, a propaganda é boca a boca. Neste caso você poderá abrir uma empresa, manter um funcionário fixo, manter um estoque, comprar diretamente da fábrica por um preço menor, utilizar os melhores balões e ter muitos recursos para atender melhor o seu cliente em um escritório próprio. Nada pior para um cliente do que ouvir uma novela, latidos de cachorro e bebê chorando no fundo do telefone. Nós escolhemos o nosso cliente. Não são os clientes que nos escolhem. Tudo depende do tipo de produto que definimos, e a qualidade que prestamos os nossos serviços.
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